Ao longa das eras, poucas civilizações têm exercido um fascínio tão profundo e duradouro sobre a imaginação coletiva quanto o Egito Antigo. Esta nação, berço de uma das culturas mais pioneiras, sofisticadas e enigmáticas da humanidade, continua a cativar e inspirar, revelando-nos a profundidade e a riqueza de seu legado milenar.

O fenômeno da Egiptomania, que teve início entre 1798 e 1801, com as campanhas napoleônicas pelo Egito, desencadeou uma fascinação global que transcendeu séculos. A veneração pela estética e sabedoria do Egito Antigo permeou diversas esferas culturais – desde a imponência arquitetônica de obeliscos e monumentos até as melodias evocativas de óperas como “Aïda”, de Giuseppe Verdi, e “Akhnaten”, de Philip Glass.

A descoberta, em 4 de novembro de 1922, do túmulo intacto de um dos mais famosos faraós egípcios, Tutankamon, que morreu prematuramente aos 19 anos, intensificou de modo particularmente forte este fenômeno e lhe ofertou uma nova face: a “Tutmania”, que teve destaque em exposições mundo afora e até mesmo em desfiles, como é o caso da coleção de 1924 da Cartier, que incluiu uma nécessaire inspirada em tais descobertas arqueológicas.

Neste contexto, recebemos recentemente no Brasil a notável exposição “Tutankamon – Uma Experiência Imersiva”, em cartaz no Shopping Cidade de São Paulo (Av. Paulista, 1230 – Bela Vista). Sendo um tributo vibrante a essa herança eterna, encontra-se aberta de terça a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 12h às 21h. A mostra convida o público a adentrar um universo de descoberta e maravilhamento, nos oferecendo uma jornada interativa através de projeções mapeadas em resolução 4K, que revelam a história do faraó e das divindades egípcias.

Visitantes possuem a oportunidade de contemplar réplicas da icônica máscara dourada de Tutankamon, explorar as imagens das divindades egípcias e se envolver com objetos cotidianos que revelam os aspectos de maior intimidade da vida antiga ao longo do Nilo. Uma exploração detalhada do processo de mumificação, um passeio virtual pelo submundo egípcio e a chance de mergulhar em um metaverso arqueológico são apenas algumas das facetas dessa experiência singular.

E qual seria, você poderia se perguntar, o interesse do MM Journal em estar presente em uma exposição com esse tema? Ainda que por vezes a sua influência seja subestimada, a verdade é que os egípcios foram um povo que contribuiu como poucos outros para o mundo da moda e da beleza.

Os seus temas, os materiais por eles utilizados e a sua mística estão presentes até hoje nos desfiles e nas passarelas, nos delineadores usados na maquiagem e nos perfumes, que foram popularizados por essa civilização – o mais famoso sendo o kyphi, composto por resina, frankincense, mirra, pinha e outros ingredientes, que servia não só para perfumar tanto as pessoas quanto os ambientes mas também podia ser usado como enxaguante bucal ou pasta de dentes.

Dentro desse contexto, a descoberta do túmulo de Tutankamon foi um marco. O mesmo, que a princípio chamou atenção pela alta quantidade de ouro nele presente (os egípcios, principalmente os mais abastados, acreditavam que a cor dourada do ouro representava a pele dos deuses, usavam com liberalidade esse metal precioso), inclua também tecidos, joias e calçados notáveis, entre os quais: 145 tangas, 12 túnicas, 24 mantas, 25 coberturas para a cabeça, 28 pares de luvas, 15 faixas, 47 pares de calçado, duas peles de leopardo e dois aventais. Ao menos trinta e seis desses itens foram replicados por um talentoso time de arqueólogos têxteis, e uma pequena parcela dessas reproduções encontra-se ao dispor do público na exposição.

Mais que uma viagem ao coração do Egito, “Tutankamon – Uma Experiência Imersiva” é uma ponte que liga o passado ao presente, dando-nos mostras do eterno impacto dessa civilização única sobre a moda, a arte e a cultura da contemporaneidade. Ao explorar o legado de Tutankamon, de suas sandálias de ouro até o manequim com suas medidas que seus servos usavam para produzir suas vestes, temos em mãos um tesouro de inspiração e conhecimento.


Texto por CAMILA NARDELLI originalmente publicado na edição #037 do MM JOURNAL. Baixe-a gratuitamente abaixo.